quinta-feira, 4 de abril de 2013

O AMOR EXISTE!

   

   Sabe o filme AMOR, de 2012, que está gerando uma polêmica danada, principalmente entre nós que já beiramos os 60 e os acima disso, pelas cenas realistas que fazem parte da película? Pois é, tem umas 3 semanas que eu e meu marido estávamos tentando assistir, mas veja só; fomos por três vezes no Usina de Cinema Belas Artes e por três vezes não conseguimos assistir por termos ido em horários errados. Algumas pessoas tinham me relatado que o filme era pesado, muito denso e que não viram nada de amor nele. Não sei se fiquei sugestionada pelas opiniões... E no fundo não queria assistir???

   Finalmente ontem assisti. Aquele casal de idosos, com vida econômica estável, culturalmente antenados, veem a fatalidade pousar em suas vidas. Simplesmente, sem mais nem menos, o sinal de que algo não está bem aparece no cotidiano. A esposa fica paralisada, não ouve e nem fala nada com o companheiro por poucos minutos, como se estivesse em um mundo alheio àquele. Instantes depois está ela agindo como se nada houvesse ocorrido, sem lembrar daquele momento anterior. Ela teve um acidente vascular.

   A partir de então o que vemos é só a sequência de involuções fisiológicas de amedrontar qualquer um. É uma realidade tão óbvia e com certeza já vivenciada por muitas famílias, mas presenciar aquelas cenas nos dá, seres humanos que vamos morrer, a certeza de que o final não será o "felizes para sempre" dos contos de fada.

   As relações que existem entre amigos, filhos, vizinhos, cuidadores, nos arrepiam, pois torna claro que cada um está mesmo é preocupado com a sua própria vida e aqueles dois velhos estão sozinhos. A filha, ausente, distante, pouco amorosa, apenas prática. Os cuidadores deixam uma interrogação, pois até onde são realmente úteis, apresentando um despreparo para o atendimento dessa dor familiar.

   O marido se mostra resistente e cuidadoso com a esposa, mas a exaustão toma-lhe conta em algumas situações. De repente, a vida daquele casal completamente estruturado vira de cabeça para baixo, se desestruturando totalmente e, cada momento posterior sendo uma mudança brusca e dolorosa.

   O final é que nos mostra que realmente aquele homem ama e respeita a sua companheira, pois com suas poucas forças dá a pincelada de dignidade, o que lhe exige toda a supremacia daquele gesto redentor. O amor existe; é com esta certeza que saí do cinema, apesar de dolorosamente as cenas estarem até agora revoando em meus pensamentos.

   Ali foi um filme; e a realidade que nos cerca? O Brasil está envelhecendo cada dia mais rápido e não vemos o governo atentar-se para políticas necessárias para essa faixa de idade - vivemos mais, mas quem disse que o final será dignificante? As famílias estão despreparadas, a assistência médica deficiente, a comunidade idem e podemos ser os próximos a passar por tal labirinto de sofrimento. Ela tinha um parceiro fiel e quem não o tem?

   Eu disse que o filme é realista e é. Não falseia a realidade de um drama como o morrer. Viva o presente inteiramente, pois a saúde é muito relativa e tem contagem regressiva.  

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